31.1.10

O forasteiro

Ele chega escondido e traz consigo os sentimentos que havíamos esquecido. Apenas os rastros de sua chegada já trazem à tona a desconfiança e medo. Aquela intolerância entre um e outro está de volta. O nervosismo na voz, o tom de ansiedade. Todos têm medo e a angústia se alastra como pólvora. Logo todos vociferam um contra o outro.

O forasteiro nem precisa estar presente. A simples menção do seu nome gera impaciência e frustração. A vontade de fugir e não deixar pistas. O desejo de cometer loucuras. Por que voltas, forasteiro? Sem chão e raiz, sempre volta. Tirando a paz e sossego.

Acha um rumo, forasteiro. Deixe o silêncio de nossos defeitos sob superfície. Não nos faça lembrar das imperfeições. Queremos fazer de conta que não há mal algum. Vai embora, por favor.

29.1.10

Nada a perder

Para ler ouvindo Acid House Kings

Lembrei de quando morava em Blumenau. Lembrei da música da Janis. "Ser livre é não ter nada a perder". Lembrei de um dia acordar e querer sumir. Ver pais e amigos e toda uma história e concluir que não tinha nada a perder. Entender que eu podia ir embora porque não fazia diferença ficar.

Em poucos momentos percebi que estava errada. Entendi que existem coisas que não se podem deixar para trás. Algumas são necessárias. Mas tem coisas que ficam marcadas pra sempre e que não mudam. Amor de pais, amizade, companheirismo. Isso não muda.

Já as decisões, a gente muda o tempo todo. Assim como eu quis ir embora e voltei. Mas agora me vejo desejando sair daqui de novo. Mas não por não ter nada a perder. Mas por ter muito a ganhar. Somar!

As reviravoltas estão acontecendo. Mesmo que a gente não perceba. Tudo está mudando e é somente o amor de muitos para nos dar um chão, um alicerce. Temos que aprender a não abrir mão de coisas fundamentais. Não dar passos no escuro. Saber que podemos contar com amigos. Eles estão perto mesmo longe. Não se pode perder aquilo que já faz parte da gente.

Pra ouvir com o vento nos cabelos

27.1.10

Aquele amor (reedição)

Gosto daquele amor inspirador
Aquele que nos faz gostar de coisas bonitas
Que nos faz sorrir sem motivo
Ou sonhar de olhos abertos

Existe um que só nos faz sofrer
Que não dá certo desde o começo
Apesar de todos os esforços
Esse não quero mais

Já aquele outro
Que nos desafia a sermos melhores
Que nos abre os olhos
Que é livre e ao mesmo tempo rocha firme

Longe ou perto
É esse que quero para mim

Novo plano (reedição)

Olhou pela janela e o horizonte não estava ao seu alcance. Era um vasto mundo lá fora. Muitas terras e fronteiras. Muitas pessoas e amigos que ainda não conhecera. Coisas que aconteceriam uma única vez e não presenciaria. Pilhas de livros a serem lidos. Filmes e músicas desconhecidos. Havia tanta coisa no mundo que queria conhecer. Será que um dia veria o cometa Halley? Ou quem sabe um dia de paz na Terra? Conclui que sua vida era curta diante de tantas coisas que queria fazer. Por isso cada dia seria um dia novo e de várias decisões e planos concretizados. Nenhum segundo poderia passar em vão. Que desperdício... Todos os espaços em branco seriam coloridos. Sopraria um pouco de ar no vácuo. Daria um impulso quando o balanço estivesse parando. Sorriria quando sentisse tesos os músculos do rosto. Dançaria na chuva se estivesse triste. Correria sem rumo se sobrasse tempo. Esse era o plano.

26.1.10

Põe no último volume

25.1.10

Confesso que vivi

já me rasguei, me escrevi
me refiz e avaliei
já menti
me arrependi
fiz porque quis
pirei e gritei
já chorei
recomecei inúmeras vezes
tentei e desisti
surtei e fui louca
agi por impulso
já voltei e fiz de novo
decidi e errei
tive crises
já fui embora e voltei
disse nunca mais e mudei de ideia
tive medo mas reagi

e agora só quero seguir
muita coisa me espera
vou parar de escrever histórias lidas por ninguém
e viver o que não se pode escrever

21.1.10

Lucidez

Percebi recentemente que
ou eu amo
ou eu escrevo

só assim pra me manter sóbria

Hey Jude

Seguir em frente


Me dá a mão e vamos juntos!
ninguém precisa andar sozinho
mas a decisão depende só de você


20.1.10

Desatar os nós


Prefiro me amarrar à vida
me amarrar à sorte
me amarrar à aventura

vamos deixar fluir
sublimar
sonhar com vagalumes

e pousar em segurança
no próximo devaneio

História lida por ninguém

Ela queria escrever a melhor história do mundo. Aquelas de contos fantásticos e comoventes que fazem a pessoa querer mudar de vida. Ou um romance que transformasse o mundo num lugar melhor. Ela queria fazer a diferença. E pra isso, contava com uma caneta e um caderno, onde registrava pensamentos e vivências.

Pretensão ou não, ela gostava de escrever. Pensou em relatar uma história de amor que nunca existiu, mas que fosse bonita e impossível. Ou então numa relação de amizade que superasse fronteiras e o tempo. Queria algo que fizesse pensar. Que fosse uma grande reflexão sobre a vida.

Rabiscou e rabiscou. Até esgotar toda criatividade. Percebeu que a ficção se parecia muito com sua própria vida. E que lhe faltava experiência de vida pra falar de algo tão grandioso. Entendeu que não tinha respostas, mas só perguntas. Perguntas que nem seus personagens tão vivos podiam responder.

Era um livro vivo e sem rumo. Talvez precisasse deixar a caneta de lado e viver um pouco mais. Sorrir, chorar, amar e sofrer pra saber do que se trata. E contar essa história só no final. Mas nem toda existência precisa ser um livro aberto.

O bom cansaço

Estou cansada. Sono atrasado. Cansaço físico. Musculatura estafada. E tudo por um bom motivo. Corpo exausto de correr e andar por entre campos. Mente exaurida de pensamentos e planos. Muito trabalho. Correria. É a vida em movimento. Não parando para refletir. Apenas seguindo em frente. Melhor assim. Preencher a vida é a melhor forma de se distrair. Os sonhos são esperados, desde que demandem força e planejamento. É o suor bem-vindo, sinal de esforço merecido. Recompensas de trabalho bem feito. Resultado de uma vida plena. Atraverssiamu!

Os melhores amigos do mundo


Por mais displicente que sejamos
vão sempre atender o telefone à noite
darão o ombro pra acalentar nossa angústia
e vão nos oferecer propostas deliciosas

irão se aventurar conosco sem rumo
por caminhos desconhecidos
em gelados banhos na chuva
pra dormir sobre a relva

fazem festa com muito pouco
e por muito pouco sempre estão por perto

19.1.10

Exercício de poesia 1

I
Reminiscências do campo

bem que eu vi
o grilo costurando a noite com os joelhos
e a galinha comendo os nós pela manhã
deixando o sol desamarrar do horizonte

II
Solução de água e sal

oh, nuvem coalhada de pingos
ensina a verter sal sem sofrer
e dissolve o amor sem eu ver
pra eu poder enxaguar coração


Não consigo dormir com cupins

Na verdade, acho que ninguém consegue. Imagina que horror: uma cama cheia de cupins. Mas não é disso que eu estou falando. Meu quarto é de madeira e durante a noite meu ouvido fica super sensível e eu escuto os cupins roendo as tábuas do teto e assoalho. Pode? Pode. E eles são bem chatinhos. É um roc roc roc infernal.
E eles já tomaram conta do pedaço. Fico imaginando quando meu chão vai ruir e eu vou cair no andar de baixo. Ou quando eu vou me encostar na parede e cair no quarto da minha irmã. Situaçãozinha infame, eu diria. Mas vou levando. Ainda prefiro o roc roc do que meus pensamentos durante a noite. Esses sim, me tiram o sono de verdade.

18.1.10

A louca

... decidiu não atender telefonemas. Jogar fotos e cartas fora. Resolveu se dar umas férias do mundo. Ia entrar numa concha e ficar lá até... mofar. Ou até alguém ser chato o bastante para tirá-la de lá. "Oh mundo cruel". Estava de mal com tudo. Nem tinha bem um motivo. Afinal, deu razão para que se afastassem. Mas ia fazer de conta que fora abandonada. "Bastardos!" Seus surtos psicóticos duravam poucas horas... algumas 78 horas. Depois ela sempre voltava com o rabinho entre as pernas. Acho que ela queria chamar a atenção. Não sei bem porquê. Tinha toda atenção necessária. Vai saber. Amanhã ela será como a louca que anda com o sutiã por cima da blusa. Aquela que grita nos semáforos. A louca. Então serão duas. Quando ela cansar ela volta.

Aqui, lá ou em qualquer lugar...

Here, there and everywhere

"To lead a better life,
I need my love to be here.

Here, making each day of the year
Changing my life with a wave of her hand
Nobody can deny that there's something there."


Essa era a trilha do início dessa jornada. O primeiro pé na estrada que Alice daria. Era para um lugar bem próximo, mas lá seria o princípio de tudo...

continua...

17.1.10

Dia no campo

campos, colinas, pinheiros, planícies

como não amar esse céu
como não amar essa terra

esse azul como tela
em verdes molduras

como não desejar uma vida toda aqui
como não deitar na grama para ver o céu

adormecer com os grilos e bichos
amanhecer com o farfalhar de folhas

é um sentimento de pertencimento tão intenso
ser dessa terra e não querer partir

Novos rumos de Alice

Desligou o telefone entre lágrimas. Viu seus projetos futuros esvaindo pela linha telefônica. Rotas e mapas derretendo sob uma chuva de lágrimas sulfurosas. Ok, drama demais. Ela fechou a gaveta do arquivo dessa fase.

E então, tirou do pescoço uma chave de sonhos engavetados em outro compartimento. E lá estavam. Outros projetos já engavetados pela vida a dois. Tinha esquecido que queria conhecer o mundo. Todos os continentes. Todas as culturas. Era esse seu maior sonho. E já estava desistindo dele muito antes de tentar.

Infelizmente, Alice acreditava que alguns sonhos eram incompatíveis. E por isso, deveriam acontecer cada um a seu tempo. E se invertesse a ordem, talvez nunca pudessem ser todos concretizados. Era uma pira dela, mas fazia sentido.

Mas agora Alice estava livre para tentar de novo. Ela ia começar uma nova aventura. E começou no impulso. Agendou um horário pra fazer um passaporte. Nem conferiu se teria folga no trabalho. Apenas arriscou. Já imaginava as páginas carimbadas. Não podia evitar a sensação de êxtase. Depois criaria rotas, caminhos, roteiros. Mal podia esperar.

... continua

15.1.10

Mulher

Dona do próprio nariz para sair da casa dos pais.

Ousada para abusar do chocolate.

Aventureira para curtir o final-de-semana.

Decidida para pedir um aumento para o chefe.

Independente para decidir quando ter filhos.

Aberta para coisas novas.

Livre para escolher.


Livre para ser mulher.



* Esse texto faz parte de um roteiro criado para o Dia Internacional da Mulher.

12.1.10

Manchas no assoalho

goteiras, rachaduras e arranhões
tanto que esse chão viveu
tantos passos barulhentos
quanta gente aqui correu

diversos destinos cruzados
meias-voltas e seguir em frente
testemunha de quantas histórias
o assoalho se fez presente

base, alicerce, palco
foi caminho e bifurcação
ofereceu teto e morada
para todo e qualquer coração

algumas vezes lavado com sal
banhado de sangue e lágrimas
terreno de triunfos e derrotas
sendo terra de vidas tímidas

11.1.10

Não sei escrever

e às vezes
acho que
nem gosto
só teimo
nem rimo
nem calculo
não conjugo
não planejo
só escrevo

Chuva


só te ouço
percussão, contratempo
nessa hora nem te vejo

e te escuto
"vai deitar, dormir"
nessa hora te obedeço

você diz pouco
"me deixa chorar essa noite"
lavar e levar

e eu te acompanho
vou derreter e pingar
escorrer e molhar

me leva contigo
sarjeta e bueiro abaixo
pra debaixo da terra

pra longe
além mar

7.1.10

Mal posso esperar

Mal posso esperar pra te ver começar
ainda está florindo, brotando novamente
e eu sei, tenho certeza,
que dessa vez será diferente

não será como na última florada
em que foi podada antes do tempo
lhe roubaram os ramos e as flores
te privaram de luz do sol e ar puro

agora terá muito mais vida
mais seiva e anéis
será forte e verde
raízes profundas e sedentas

vai florir como nunca
dar frutos e sementes
sorrir em todas as estações
servir de sombra e morada

Obrigado...

4.1.10

Centelha

Sinto que falta alguma coisa. Mas na verdade ela está ali. Apenas sem uso, abandonada no fundo. Mas é dela que preciso. Ela é o princípio de tudo. Ela impulsiona o mundo. Aquela partícula. Incandescida. Sem ela não há vida.

Quanto tempo


quanto tempo não te vejo
e mesmo assim te almejo
perco as noites pensando em ti

nos teu movimentos
na tua leveza
papel e caneta

quero escrever e não consigo
tento e nada me vem
triste sina de poeta sem imaginação


3.1.10

Bom dia