5.12.08

uma vida pra Marina - parte 2

Fred fora o que restou de André: da separação, dos seis tortuosos anos da união. Marina nem gostava muito da companhia do cachorro, mas tomou-o de André por vingança. Afinal, ele ficara com o orgulho da mulher. A troca havia sido justa, pensava Marina.
Nos seus 30 anos, Marina sentia-se velha, ausente de vida. Queria esquecer das perdas, mas o tempo nunca as levava, como prometiam os amigos. Assim, a tristeza envelheceu-lhe o espírito. Tornou-se amarga e criou irritações: entre elas, o tilintar dos talheres e o desprezo de Fred.
Se a pena de si mesma a prendia na cama, a agenda de domingo a incentivava a levantar. Dia de ver o pai. Seu Afonso, como a vizinhança o conhecia. Sozinho e desamparado, seu Afonso era preferido de Marina. A mãe, Beatriz, era auto-suficiente demais. Marina não apreciava o gosto da mãe pelas aulas de ginástica. Achava-a ridícula estendendo braços e pernas ao lado de adolescentes bem mais elásticas do que seus 55 anos.
Seu Afonso abafava a solidão com um sorriso sempre presente. Nas caminhadas matinais encontrava sempre os mesmos conhecidos. Todos recebiam cumprimentos e o pai de Marina não esquecia de atualizar-se sobre os outros – mais por educação do que por interesse.
Afonso perdeu Beatriz quando ela descobriu as aventuras do marido. Isso foi há dois anos. Beatriz apenas viu o que já sabia. Num impulso de lutar pelos “anos que ainda lhe restavam”, chamou a filha e comunicou a separação. Marina sentiu a felicidade nas palavras da mãe. A filha sofreu por Beatriz ter lhe contato como quem revelasse uma boa nova à uma amiga. Marina soube antes de Afonso. Ele chorou, mas ninguém viu.

(continua)

a parte 1 tá aqui, ó

2 comentários:

workaholicarol disse...

ai que triste, o seu Afonso... ;(

caroline p. disse...

o seu Afonso deu uma escorregadela... calma, lá. hehehe