1.10.08

Pecadores quase redimidos*


Quando se fala em pecado, a primeira coisa que surge na mente do cristão é a culpa. Aquela dor na consciência por causa da gula. "Que pecado, tem gente que passa fome". Aquela preguiça de ir trabalhar. "Tanta gente sem emprego, meu Deus". E agora essa. Mais pecados. Seis novos.

Aqueles que se apegam às crenças divinas, ao invisível que rege nossas vidas, não têm escapatória. Quem acredita, conhece o ditado. Deus é onipresente e onisciente. Sabe o que fazemos e o que pensamos. Quando agimos bem ou pecamos. Mesmo escondido dos olhos alheios, Ele sabe o que aprontamos.

Felizmente, a nova lista veio redimir a muitos. Manipulação genética não é algo que se aprende da noite para o dia e reles mortais não vão se ajoelhar diante do padre caso não tenha um diploma de geneticista. Enriquecer demais ou causar pobreza chegam a nos tirar peso dos ombros. Quem trabalha de sol a sol, batalha pelo pão de cada dia, não tem o que confessar. A luta diária por sobrevivência acaba sendo a penitência por estar vivo. Seguindo ainda da lista de pecados, os caretas, ou quem já passou da idade da juventude transviada, nem sequer pensam em drogas. Ser puro nunca pareceu tão fácil.

Agora, quando a redenção e o caminho para os céus parecem próximos, aquele diabinho que senta sobre um dos ombros espeta. "Você demora demais no chuveiro. Não separa o lixo. Desperdiça papel e não abre mão de usar o carro". Jogar lixo no chão nunca provocou tanta culpa. Estou pensando seriamente em comprar uma xícara e deixar no trabalho para não gastar copos descartáveis com café. Preciso lembrar-me de fechar a torneira quando escovo os dentes. Escrever nos dois lados da folha de papel e separar os recicláveis...

Perdoai-nos, Senhor. Prometo plantar cinco mudas de árvores e rezar dez Pai-Nosso.

* Escrevi essa crônica como teste para um jornal (do qual nunca tive respostas). Na época, todo mundo falava e escrevia dos recém novos pecados da Igreja Católica.

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