25.10.08

Sonhei com minha infância


Sinto que em algum momento da minha vida, tudo mudou. Deixei de ser a criança que eu era e passei a ser a mulher que sou hoje. Parece que foi brusco. Um dia acordei diferente. Lembro apenas de fragmentos de que eu era.

Muito tímida quando pequena, só tinha coragem e ousadia na hora de responder perguntas feitas em voz alta na sala de aula. Fora da escola, eu evitava conflitos em que tivesse de expor minha opinião. Por muito tempo fui assim. Minha mãe dizia que meu pai tinha a mesma mania. Guardava preocupações e pensamentos só para si. Até que um dia teve uma úlcera. Minha mãe, ao contrário, se envolvia na briga de todo mundo, adorava comprar briga e assumir responsabilidade por tudo.

Hoje, sou mais como ela. Fico contrariada quando as coisas não se encaminham do meu jeito. Do meu pai, mantive o senso de humor. Além disso, um estranho senso de compreensão, que geralmente divido com outros geminianos (como a Carol, que escreve aqui comigo). E agora, vejo minha infância tão distante. Pedaços muito difusos de memórias. E essa noite, sonhei com minha casa antiga.

Em toda minha vida, morei em três lugares. Desde o nascimento até os quinze anos, vivi num bairro afastado do centro – na Santa Paula. Lá, cresci brincando na rua, conhecendo toda a vizinhança. Tinha uma melhor amiga que nascera no mesmo dia que eu. Juliana era algumas horas mais nova. Depois, me mudei para o Centro, na antiga casa doa meus avós maternos. É onde moro até hoje. E por treze meses dividi um apartamento em Blumenau com uma amiga, a dona Roberta.

Nesta noite, sonhei que fui visitar a casa da minha infância. Eu negociava com a dona atual (que eu não conheço) para compra a casa de volta. Mas lá, eu iria viver com uma família que eu estava prestes a construir. Foi um estranho ponto de fusão entre passado e futuro. Me perguntei, ao acordar, se secretamente eu desejava morar em um bairro pacato e quisesse formar uma família. Digo isso porque hoje a idéia parece remota. E eu não soube responder. Escrevendo isso agora percebo uma certa necessidade de resgatar alguns momentos vividos. Sinto que algumas portas fechadas lá trás no tempo permanecem trancadas e esquecidas. Talvez seja hora de buscar no meu passado para me encontrar no futuro.

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